Por que provar Deus é filosoficamente equivocado

Segundo Immanuel Kant, na Crítica da Razão Pura, tentar provar racionalmente a existência de Deus é filosoficamente equivocado

Fabio Akira

12/8/20252 min read

A Crítica da Razão Pura, publicada por Immanuel Kant em 1781, é uma das obras mais influentes da história da filosofia. Nela, Kant não tenta apenas responder o que é o conhecimento, mas algo ainda mais radical: até onde a mente humana pode ir ao tentar compreender a realidade. Sua investigação inaugura um novo modo de pensar, mostrando que muitos dos nossos problemas não nascem do mundo em si, mas da forma como nossa razão tenta compreendê-lo.

A “Crítica da Razão Pura”, de Immanuel Kant

e os Limites da Nossa Compreensão da Realidade
A grande pergunta de Kant

Imagem do Filósofo alemão Immanuel Kant

Kant parte de uma questão central:
“O que podemos conhecer com segurança?”
Ele percebe que a filosofia estava dividida entre:

  • o racionalismo, que confiava na razão pura,

  • e o empirismo, que acreditava apenas na experiência sensível.

Kant propõe uma síntese: o conhecimento surge da união entre experiência e estruturas da mente.

Fenômeno e coisa em si

Um dos conceitos mais importantes da obra é a distinção entre:

  • Fenômeno: aquilo que aparece para nós, a realidade como é percebida.

  • Númeno (coisa em si): a realidade como ela é em si mesma, independente da nossa percepção.

Segundo Kant, nunca acessamos a “coisa em si” diretamente. Tudo o que conhecemos já passou pelos “filtros” da mente humana, como:

  • espaço,

  • tempo,

  • causalidade,

  • quantidade,

  • qualidade.

Ou seja, não vemos o mundo como ele é, mas como nossa estrutura mental permite que ele seja visto.

Como isso nos ajuda a entender nossos próprios problemas?

Muitos dos conflitos humanos surgem quando tentamos responder questões que ultrapassam os limites da razão, como:

  • existe um sentido absoluto da vida?

  • o universo tem começo?

  • Deus existe como objeto demonstrável?

Para Kant, essas questões pertencem ao campo do uso ilegítimo da razão, quando ela tenta ultrapassar aquilo que pode ser conhecido pela experiência. Isso não significa que essas perguntas não sejam importantes, mas sim que não podem ser resolvidas pelo conhecimento científico ou lógico.

Assim, Kant nos ensina algo fundamental:
👉 Alguns problemas não são insolúveis por falta de esforço, mas porque ultrapassam os limites da própria razão humana.

Por que a “Crítica da Razão Pura” ainda é tão atual?

Vivemos em uma época que confia enormemente na ciência, nos dados e na tecnologia. Kant continua atual porque nos lembra que:

  • nem tudo pode ser reduzido a números,

  • nem tudo pode ser provado,

  • e nem todo problema é técnico.

Há limites estruturais para o conhecimento humano — e reconhecê-los é também um ato de maturidade intelectual.

Imagem do Filósofo alemão Immanuel Kant

Imagem do Filósofo alemão Immanuel Kant